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Foto do escritorGiovanna Araujo

O que movimenta a moda soteropolitana?

Como festivais e eventos de cultura negra e alternativa fomentam a moda em Salvador

Foto: Reprodução


Música, arte e moda: essas áreas não apenas estão ligadas, mas são, na maioria das vezes, indissociáveis. Elemento principal das três, a vontade de inovar, encontra um campo fértil quando há inspiração, e isso Salvador tem de sobra. Vibrante, rica em cultura e diversidade, o que não falta é estímulo para criar na cidade, mas afinal, o que ou quem movimenta a moda soteropolitana?


O canto da cidade


Falar de moda é falar de identidade, inovação e expressão. Seja em eventos como o Carnaval, o Afropunk ou até mesmo no dia a dia, é possível visualizar a autenticidade do soteropolitano em peças, detalhes e escolhas para se vestir e se mostrar para o mundo. Em específico, em festivais e eventos que celebram a cultura negra e de Salvador, a moda ressoa de forma latente.


Festivais e eventos funcionam como um palco para marcas expandirem ou consolidarem sua influência no mercado. Marcas que conseguem adentrar o nicho da música e cultura, carregam potencial de se tornarem escolha primária para o público, até mesmo sem ligação direta com a ocasião.


Como é o caso da Unique. Criada em 2018 pela costureira autodidata Luana Vitória, 23, a marca trabalha com peças de criações autorais, como também produções upcycling. Segundo a criadora, os objetivos da marca são mostrar a importância do público e que a rua consegue ser elegante, de modo que a confecção de roupas para festivais tem sido uma forma de se aproximar do consumidor. "Conseguimos transmitir um pouco de cada pessoa em uma peça. É um momento em que os clientes se sentem abraçados e únicos", afirma Luana.












Peças da coleção exclusiva da TeroyTreze para a Batekoo Mete Gala | Reprodução


Assim como a Unique, outras marcas soteropolitanas encontram espaço para alcançar mais visibilidade em eventos específicos. A TeroyTreze, por exemplo, lançou recentemente uma coleção de peças exclusivas para o Baile Mete Gala da Batekoo. De acordo com os criadores, Alexsandro Rodrigues, 24, e Albert Lefundes, 22, as peças vibrantes e únicas foram criadas com o objetivo de fomentar a moda preta independente.


Em entrevista a DémodÉ, Alexsandro e Albert dizem que há uma forte expressão através do vestuário em festivais musicais e artísticos de Salvador, e a dedicação do público desempenha um papel crucial nesse processo. “O público busca não apenas vestir-se, mas fazer uma declaração, expressar identidade e conectar-se com as narrativas culturais. Como diretores criativos vemos isso como uma oportunidade incrível para a Teroytreze se envolver organicamente com esse público apaixonado e oferecer peças que ampliem essas expressões individuais”, explicam.


Vem, meu amor


Viver um evento não envolve apenas o consumo de conteúdo promovido, mas também a vivência do local, o relacionamento com o público e, principalmente, a produção de styling. A compreensão da ocasião para um dress code bem executado tem recebido atenção no momento de pré-produção. “Como Stylist, produtor artístico, criador de conteúdo e de moda, a parte de pré-produção é a que mais me empolga em um evento: estar ligado ao conceito do evento e levar isso no que eu estou vestindo”, declara Math Ribeiro, 25, stylist, produtor artístico e criador de conteúdo.


Math Ribeiro vestindo Tanisha Ateliê no dia 1 do Afropunk Bahia 2023 |

Foto: Arquivo pessoal


Para Math, pensar em Salvador como campo de pesquisa e inspiração é fundamental para desenvolver suas produções. “A gente vive em uma cidade bem alternativa, que nos permite fazer a moda acontecer com o que a gente se sente confortável e gosta, sem julgamentos. Todo canto que você olha em Salvador tem arte e eu estou sempre ligado a isso, trazendo para as minhas produções. Me sinto muito livre em Salvador para usar o que eu quero e ser reconhecido por isso é muito legal”, afirma.


O potencial criativo de moda em Salvador vai de diretores criativos de marcas já consolidadas a pessoas interessadas em moda que usam peças mais simples, ou até mesmo reutilizadas. Elaine Alves, 20, estudante de jornalismo na UFBA e influenciadora digital, aborda como principais conteúdos em suas redes sociais, dicas sobre brechós, customizações e produções voltadas para moda e beleza. Segundo a criadora, que tem um alcance de mais de 27 mil seguidores, seus vídeos são bem recebidos e promovem trocas com o público, de modo que seu sucesso chegou até a marca TeroyTreze, que a convidou para participar como modelo da nova coleção Nebulosa.


Elaine Alves no dia 1 do Afropunk Bahia 2023 |

Foto: Arquivo pessoal


De acordo com Elaine, é notável que, sazonalmente, em festivais e eventos, a busca por looks mais elaborados aumenta, mostrando um impacto positivo na economia das marcas locais a partir do crescimento da demanda, mas não é só a marca que sai ganhando. A influenciadora utiliza desses momentos para produzir conteúdos voltados para ocasião da vez e se tornar relevante no período de pré-produção do evento, etapa que tem sido cada vez mais aguardada entre o público.


Vai sacudir, vai abalar


Com tantas conquistas recentes de marcas soteropolitanas nos cenários nacional e internacional, é perceptível que Salvador chegou para ficar na moda. A aparição cada vez mais frequente e aclamada de tais marcas em locais de visibilidade, como na São Paulo Fashion Week, por exemplo, retrata um processo de inovação na profusão e difusão da moda no Brasil.


No entanto, nem sempre esse potencial é reconhecido. Apesar do movimento intenso de adesão à moda em festivais e manifestações artísticas, ainda há aspectos negativos em relação à sazonalidade no consumo de vestuário em Salvador. De acordo com Luana, CEO da Unique, há falta de valorização de criadores de moda soteropolitana. “Nossas ideias são constantemente copiadas e quando tentamos chegar mais além, temos que nos deslocar do nosso próprio estado para talvez conseguir algum tipo de oportunidade ou investimento”, ressalta.


O movimento de crescimento de oferta de moda essencialmente soteropolitana na cidade, necessita de apoio e reconhecimento para se expandir. Para Alexsandro e Albert, criadores da Teroytreze, o processo é crescente, mesmo que não seja tão expressivo. “Consideramos a expressão através da moda em Salvador mista, pesando um pouco mais para sazonal, atingindo seu ápice em eventos específicos. Esses momentos intensificam a visibilidade das marcas e ateliês soteropolitanos, gerando impacto positivo em termos de reconhecimento e apreciação. Apesar disso, a autenticidade cultural da cidade fornece uma base constante para a expressão de moda, permitindo que as marcas locais consigam produzir ao longo do ano”, refletem.


Salvador tem muito a oferecer e, para isso, é necessário dar voz a quem faz a moda acontecer na cidade. Dos criadores aos consumidores, os aspectos positivos impactam a todos. A moda em crescimento movimenta a economia, a cultura e consolida a imagem da capital baiana dentro do contexto nacional, além de mostrar que aqui tem originalidade de sobra para criar e se expressar.


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