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Foto do escritorFê Sena

Cyclone, Kenner e mais: Como influencers e estudantes têm repercutido a moda de “favela” em Salvador

Influenciadores e estudante de colégios públicos têm popularizado marcas e moda periférica

Kenner é um dos maiores símbolos da cultura periférica

Reprodução | Instagram/@Kenner




“Cyclone não é marca de ladrão, mas com toda a discriminação”, diz os versos da música Cyclone (2011). Na voz de Igor Kannário, que nasceu na periferia da Liberdade, em Salvador, a música é um protesto contra o preconceito sofrido por jovens que usam a marca que, primeiramente, tinha como público alvo os surfistas, mas que ao longo dos anos se moldou e hoje entra no escopo de Moda Urbana e Streetwear.


Popularizada principalmente durante os anos 2000, em Salvador, a Cyclone ganhou fama de “marca de ladrão” por ser usada por homens vinculados ao crime. No entanto, ainda é objeto de desejo de muitos jovens nas periferias, seja para “impor respeito” ou para estar “na moda do gueto”, como diz os versos de Cyclone (2011).

Reprodução | Site Cyclone

Bermuda de Veludo Cyclone custa por volta de R$ 359


Por sofrer tanto preconceito da sociedade que marginaliza pessoas oriundas das periferias, usar Cyclone é como se fosse uma simbologia de respeito por adquirir peças de alto custo, que por muito tempo foram projetadas apenas para pessoas privilegiadas socialmente. É como se fosse um protesto de: “moro na favela, mas posso e tenho dinheiro para usar Cyclone”.


Contudo, não é apenas a marca de Streetwear que faz parte da “pala”, através das camisetas, bermudas e conjuntos. Entre as peças também estão a Kenner, que praticamente triplicou de preços nos últimos 10 anos. Hoje, o modelo Rakka Elite L7, em collab com o funkeiro carioca L7NNON, pode ser encontrada por volta de R$ 230. Inclusive, a marca tem vários modelos em collab com a cantora Anitta, primeira embaixadora global da marca. Uma das mais procuradas da coleção é a Rakka na cor rosa ou lilás.


A Kenner caiu tanto no gosto dos soteropolitanos que hoje já é comum os chamados “Enzos de Alphaville” também usarem a sandália, que antes também era discriminada como sandália de “pobre” ou de “foveiro”. O termo “foveiro” significa um modo exagerado ou pouco sofisticado de se vestir. O mesmo aconteceu próximo a Copa do Mundo 2022, quando o Brasil Core, estilo nascido na periferia do Rio de Janeiro, foi incorporado à estética temporal de algumas marcas e usado e abusado pela classe média alta.


Também são usados pelos jovens das periferias os batidões, correntes em espessura grossa, com pingente grande e relógios dourados. Outras marcas e peças entram no rol do dress code dos jovens periféricos, é o short tactel da Seaway, camisa gola polo da Lacoste, boné de aba reta, óculos Ray-Ban Wayfarer de lente prateada, entre outras peças.


“Naipe” na escola pública


Alguns influenciadores digitais de Salvador tem produzido conteúdo para as redes sociais interpretando estudantes de colégios públicos da capital baiana. Com a clássica farda azul, usada por estudantes de colégios de Salvador, a influencer Lore Rufis publicou um vídeo fazendo o papel de uma adolescente conversando com o outro influencer, Guilherme, o Guituber.


Em poucos minutos, é possível perceber a simbologia e relação das peças usadas por Guitiber com o local em que conversam, a rua de uma favela em Salvador. O local contrasta com a camiseta de time, o short da Seaway, o batidão e pulseira de prata, e boné da Nike; peças incorporadas por muitos jovens que residem em locais periféricos.


Lore Rufis também se destaca como muitas estudantes de colégios públicos da capital baiana se vestem, com a camiseta da farda do colégio amarrada na cintura, e com a gola cortada, contra regras que vários estudantes incorporam.


Em seguida, aparece o influencer Murilo Henrique, que interpreta o crush de Lore Rufis, que chama seu amigo para conversa e pede ajuda para conseguir uma ‘chance’ com ela. “Eu posso te levar num reggae mais tarde, mas tire essa roupa que tá toda de mijão, que ela viaja no reggae também”.

Reprodução | Site Cyclone

Clássica Saia de Veludo Cyclone


Ao final, o encontro é marcado e os dois vão para um ‘date’. Daí vem a famosa saia da Cyclone, a bermuda da Cyclone com as cores da Jamaica, a Kenner, corrente de prata e pulseiras de borracha coloridas, chamada de “pulseira do sexo” por volta de 2010 e clips no cabelo. Assim como outros artigos, o celular Nokia de clipe, o hidratante labial em formato de morango. Ao fundo, toca ‘Menina Linda’, da banda Fantasmão, um dos clássicos do pagodão baiano.


Tudo isso é uma sacada de marketing para divulgar o aniversário de Guituber, realizado em outubro deste ano com o tema anos 2000. Mas não é qualquer anos 2000, é o ano 2000 da “favela”. Por isso, também no Reels do Instagram, o conjunto com calça e colete da Cyclone, óculos de sol, em alusão ao “Pássaro” ou “Príncipe do Gueto”, Igor Kannário.


Em outro vídeo, estão outros influenciadores em um ônibus, onde hoje surfa a onda de quem usa Cyclone. Entre eles, a também cantora Nininha Problemática, Jefersonildon Oliveira e Alesson. Apesar das mudanças na moda periférica nos últimos 10 anos, seja na vestimenta, artigos eletrônicos, entre outros aspectos, ainda é possível ver diversos aspectos que ainda permanecem. Isso é nítido através de vídeos compartilhados por estudantes de escolas públicas no TikTok hoje.


Mesmo com a inserção de peças como a “calça de shopping”, wide leg, em contraponto a “cringe” calça skinny, segundo a geração Z twitteira, ainda estão lá a Kenner, o relógio dourado, a corrente de prata. Assim como o piercing ponto de luz no nariz, as tatuagens, o baby hair no cabelo, o gloss, o corte de cabelo com riscos e símbolos, entre outras marcas que diferenciam os estudantes de colégios da rede pública de Salvador, que são majoritariamente negros, dos estudantes de colégios particulares.



No entanto, se antes, para ser estiloso também era necessário ter o swing, hoje é fundamental ter o “naipe”, ou seja, se vestir de forma diferente e estilosa. No entanto, o “naipe baiano” também é conhecido como um novo estilo de dançar o pagodão, que advém dos bloquinhos, uma espécie de pout pourri com músicas do pagodão baiano e alguns remix, o que tem gerado até as chamadas “batalhas de naipe” em colégios e cidades da Bahia.




Com um jeito único de se mostrar, os baianos tem uma cultura rica em diversos pontos. Quando se fala especificamente de Salvador, não é diferente. Nos últimos anos, a cultura periférica tem invadido a cena local, principalmente através de eventos, como a Batekoo, festa voltada para o público negro e LGBTQIA +, onde as pessoas trazem em seus looks as raízes de onde vieram para não se esqueceram onde vão.

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