As joias são um elemento simbólico de representatividade no mundo dos DJs, rappers e MCs
MC Guimê e a exibição de joias no funk ostentação | Reprodução
Entre fevereiro e abril de 2023, o Museu FIT (Fashion Institute of Technology) de Nova Iorque realizou a exposição Fresh, Fly and Fabulous: Fifty Years of Hip Hop Style, marcando a importância do Hip Hop como estilo musical que surge nos guetos dos Estados Unidos, na década de 1970; e ganha o mundo, tornando-se um relevante movimento cultural da contemporaneidade. Sua influência e dissidência impactam não somente a música – gerando novos ritmos, como o Trap – mas, também as artes – a exemplo do grafite – e a própria moda, com um estilo único que se revela na aparência dos DJs, rappers, MCs e daqueles que se identificam e consomem toda essa poética marcada pela ostentação.
Racionais e MC Grande, referências nacionais no Hip Hop | Reprodução
No ano do 50º aniversário do Hip Hop, impossível não pensar nessa aparência a partir de um olhar especial para as joias e, particularmente, para os efeitos dessa visualidade também no Brasil. O Hip Hop fez, da mesma forma, história por aqui, desde os Racionais MC’s até o funk ostentação com MC Guimê e tantos outros nomes. As letras das músicas, a performatividade dos artistas e do público que adere ao movimento através da aparência expressam e destacam os sonhos de vida destas pessoas, em sua maioria, nascidas e criadas em contextos periféricos de vulnerabilidade social.
A rapper Cardi B | Reprodução A rapper brasileira Tássia Reis | Reprodução
O Hip Hop Style é notável por sua proposta streetwear, com tênis, roupas esportivas, jaquetas bomber, bonés, buckets hat, entre outros itens bastantes associados ao consumo de luxo. E mais: exibe joias e bijuterias luminosas, preferencialmente em metais dourados. As joias que marcam o Hip Hop Style apresentam uma visualidade pesada, brincos, anéis e correntões com pingentes carregados de gemas naturais e sintéticas, preferencialmente em ouro amarelo. São adornos que surgem como protagonistas na composição destes looks como verdadeiros acontecimentos.
As visualidades ofuscantes e preciosas destas joias não compõem a poética Hip Hop de modo aleatório. A história da joia se confunde com a própria história humana, sendo atravessada constantemente por sentidos diversos, latentes e moventes: proteção, poder, status, afeto, sedução, memória... São objetos socioculturais que proporcionam às pessoas que as criam, as usam ou as admiram uma identificação dinâmica. O filósofo e sociólogo Georg Simmel, no início do século XX, fez questão de destacar essa habilidade das joias de serem extremamente altruístas por emprestarem a nós toda sua potência e irradiação, prontamente validada pelo olhar do outro que, por sua vez, deseja atrair para si a mesma aprovação e êxtase.
Rapper americano Kool Moe Dee | Reprodução
As joias fabulosas sobre os corpos dos MC’s, DJ’s e seus públicos estão ali para reafirmar a necessidade dessas pessoas exibirem e gritarem sua presença para o mundo sem nenhuma modéstia, sem pudor. São, sem dúvida, uma forma de alteridade e resistência.
A tão censurada superficialidade (frivolidade) das joias se apresenta, desse modo, como uma considerável virtude em uma sociedade guiada pela dinâmica da moda e da aparência. Superficialidade esta que nos leva à inutilidade útil, ideia que defendo como sendo uma das propriedades inerentes à joia, talentosa em amplificar a comunicação entre as pessoas, atendendo nossa vontade de autoconhecimento, pertencimento e, ao mesmo tempo, diferenciação.
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